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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
O coveiro "Rouba almas"
O nome do coveiro era “Onireves rouba almas”. Morava só numa casinha do outro lado da cidade, trabalhando no cemitério do meio dia às 18h, diariamente.
Na cidade de Literacity corria uma lenda de que ninguém conseguia conversar com seus parentes mortos, pois ele roubava as almas que eram enterradas no cemitério, no qual ele era o coveiro.
Quando chegou à cidade um novo delegado, casado e sem filhos, tirado a valente, disse logo:
- No local em que eu sou delegado, não existe nada que possa dar medo à comunidade. Eu tenho estratégia! Manda chamar quatro homens mais fortes deste local, para vir conversar comigo amanhã 8 horas da manhã.
Escolheram os mais bravos magarefes do mercado e no dia seguinte lá estavam eles. Porta fechada, conversa baixa e promessa de dinheiro para fazer o serviço. Tudo combinado, o delegado disse que faria uma viagem ao distrito e que voltaria no final da tarde. Mas tudo não passava de uma armação, para saber o que o tal coveiro fazia de madrugada com as "almas".
- Quero que me coloquem numa gaveta no cemitério, para eu não ficar sem ar. Ouviram?
- Sim senhor! – responderam.
Naquela mesma manhã, por volta do meio dia, correu um boato de que o delegado havia morrido naquela curta viagem, mordido por uma cobra coral, e que já estava chegando num caixão para ser enterrado antes da noite, quando um dos magarefes explicou:
- Esse negócio de morte por veneno de cobra é problema, se demorar enterrar.
O caixão ficou fechado por meia hora na porta da delegacia, com o visor de vidro aberto, para que o povo pudesse ver que era ele mesmo. Depois o fecharam e o levaram para dentro, fecharam as portas e ninguém pode mais entrar, dizendo que era somente a esposa que poderia ficar um pouquinho naquelas horas finais com ela. Claro que foram dar água e um tempinho para ele ir ao banheiro. Depois desse tempo, abriram a porta e o cortejo com pouca gente seguiu para o cemitério já escurecendo, pois ele ainda não era conhecido na cidade.
Depois de "engavetado", o povo foi embora e o coveiro fechou o portão.
Quando chegou a noite, o delegado ouviu a tampa da gaveta se abrir.
- É agora! Vou ficar quietinho e observar o que esse malandro vai fazer. - pensou consigo.
O coveiro puxou o caixão, botou no chão, virou o delegado e roubou a alma, numa ação cretina de doente mental.
O delegado ficou sem saber o que fazer, pois ele era a autoridade, mas naquele momento ele estava fazendo um papel de espião, e teria de se fazer de morto, sem deixar que o plano fosse descoberto. O coveiro terminou a tarefa, fechou tudo e foi embora.
No amanhecer do dia seguinte, como estava combinado, vieram os quatro homens com uma segunda chave do portão retirar o "defunto" para saber o que havia acontecido, e se o delegado teria descoberto alguma coisa. Sentado na tampa do túmulo o delegado contou em versos:
-“Peguei no sono profundo, vi estrelas e nem me lembro de nada do outro mundo. Não sei bem como ele rouba as almas dos condenados, só sei que elas sofrem muito quando estão daquele lado. Eu tenho uma solução, e vamos agir ligeiro. Ele tem parte com o cão, vamos matar o coveiro.
Foram à casa do Oneireves, deram uma meia dúzia de tiros nele e ainda botaram fogo na casa e queimaram o corpo do coitado. Nem o rastro das cinzas quiseram encontrar, para que ele não caísse na besteira de querer vir contar como roubava as almas naquela cidade.
Segundo contam as beatas, a partir daquela data, as almas voltaram a baixar nas reuniões mediúnicas, pois nada mais tinham do que se envergonhar.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 07/08/2014
Alterado em 03/10/2020
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