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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
Sosígenes Costa – Melhores poemas
COSTA, Sosígenes. Melhores Poemas. Organizado por Aleilton Fonseca. Rio de Janeiro: Global Editora, 2012.

Sosígenes Costa, que nasceu em Belmonte, em 14/11/1901, viveu muitos anos em Ilhéus, e depois no Rio de Janeiro, onde faleceu, em 5/11/1968.
Deixou apenas um livro publicado Obra poética (1959), que recebeu o primeiro Prêmio Jabuti de poesia, em 1960.
O livro “Melhores poemas” foi organizado pelo Prof. Aleilton Fonseca, pela editora Global, de São Paulo, que também fez o estudo crítico introdutório da obra lírica do poeta belmontense.
A metáfora está presenta na produção de Sosígenes. E como bem assinalou Roberto Acízelo, o século XX supervalorizou a ideia de analogia e preservou a metáfora como retórica, como essência da linguagem poética e da linguagem em geral.
O poeta foi redescoberto no final da década de 70, através de um ensaio Pavão parlenda paraíso, de José Paulo Paes, da reedição do seu livro de estreia, ampliado e organizado por Paes, e da edição do longo poema narrativo Iararana (1979).
No final dos anos 90, sua obra voltou à tona, graças a um ensaio original de Gerana Damulakis, Sosígenes Costa - o poeta grego da Bahia (1996).
Em 2002, o centenário do poeta foi comemorado na ALB, através de um seminário promovido pela revista Iararana, então editada por Carlos Ribeiro e Aleilton Fonseca. A sensualidade da poesia de Sosígenes Costa (Florisvaldo Mattos) consolidaram o nome do autor, chamando a atenção para sua obra. Surgiram então artigos,e studos e ensaios sobre a obra do poeta dos pavões e das paisagens atlânticas.
Em 2007, a pesquisadora carioca Jane Malafaia defendeu uma dissertação de mestrado (O modernismo singular de Sosígenes Costa) na Universidade Federal Fluminense, e em setembro próximo defende tese de doutorado (a primeira sobre o poeta) na mesma UFF, sobre os torneios das metáforas na poesia de Sosígenes Costa.
O livro insere o poeta belmontense numa seleta coleção da melhor poesia brasileira de todos os tempos, fazendo jus ao seu valor estético, temático e cultural.
José Paulo Paes afirma que a “metáfora de invenção” da poética que se instala entre o real e o imaginário é uma ponte de mão dupla, por onde a surpresa da descoberta transita em um ir e vir, que se repete indefinidamente, diferente da lógica da fala comum.
Na década de 70, James Amado (1922-2013), o último irmão de Jorge Amado, que desde 1990 ocupava a cadeira 27 da Academia de Letras da Bahia, despertou no poeta e ensaísta paulista José Paulo Paes, que no livro Pavão Parlenda Paraíso (Cultrix, 1977) testemunha a admiração e interesse pela poesia de Sosígenes Marinho da Costa. Paes continuou editando trabalhos, e no poema modernista "Iararana", que só figurava como "Trecho de Iararana", mas veio a lume na íntegra, ainda pela Cultrix, em 1979, com importante estudo do poema feito por Paes.
Conquanto José Paulo Paes qualifique Iararana como "o mais ambicioso e sustentado" poema de Sosígenes e o chame de "diferencial", sua análise no prefácio dessa obra, imputa-lhe o caráter de "anacrônico" e "tardio", colocando-o, hierarquicamente, numa situação de dependência estética das obras dos ditos "corifeus" modernistas:
Macunaíma (de Mário de Andrade), Cobra Norato (de Raul Bopp) e Martim-Cererê (de Cassiano Ricardo).
Essa vinculação estética não vislumbra, entretanto, uma abordagem dos elementos mais significativos e diferenciais da obra sosigenesiana, nem a visualização da perspectiva crítica do poeta em relação ao projeto modernista, representa, aquilo que Silviano Santiago descreve como o "prazer" de uma linha de prestígio da crítica brasileira, redutora e arbitrária, quando esmiuça a genealogia de influências de um texto, "como se a verdade de um texto só pudesse ser assinalada pela dívida e pela imitação".
Mesmo que Iararana tenha recebido as influências do modernismo paulista, redimensionou essa leitura. Sua antropofagia é mais próxima de uma vivência periférica. Sosígenes falava das margens e nas margens, não seguia, portanto, uma tendência de busca pelo exótico macunaímico, nem se preocupava diretamente com um movimento nacional, louvando a investida colonial como formadora de uma cultura bela e "colorida".
Partindo de Belmonte, perto do mar, o poeta registra a voz da "alma do mato" na conversa secreta dos bichos e dos seres encantados da mata, uma história de apagamento e violência culturais, retratada ao sabor dos mitos indígenas e europeus e da imaginação cabocla do autor dos Sonetos Pavônicos.
Essa narrativa da alma-do-mato em Iararana vai dessacralizar a visão heróica do "descobrimento" do Brasil, mostrando a invasão e a violência. O colonizador é representado pela figura do centauro mitológico.
Iararana é filha de uma Iara, a mãe d’ água da Ingauíra, pois não puxou à sereia, puxou todinha do pai, aquele cavalo branco. Mas nem cobra preta, nem bruxa nem nada puderam matar aquela pestinha. A filha do rio que acorda gritando quem nem mãe-da-lua e dá pontapé, no peito da iara, pedindo mingau, pedindo café. A banda tocou quando ela chegou. Aquela mão d’água não era gente não.
A identidade é, então, construída a partir de um repertório cultural que se apresenta na sociedade, que pode se expressar como conhecimento científico, práticas artísticas ou religiosas. Mas, “todos esses materiais são processados pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades, que reorganizam seu significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão de tempo e espaço” com frequência, a identidade envolve reivindicações essencialistas sobre quem pertence e quem não pertence a um determinado grupo identitário, nas quais a identidade é vista como fixa e imutável”. O sentimento de pertencimento e permanência é o pressuposto básico para a construção da identidade individual, ao se referir aos grupos a que pretende fazer parte. No entanto, ver a identidade como fixa e imutável corresponde apenas a uma estratégia para tentar formar nas consciências a sensação de homogeneidade que, na verdade, não corresponde mais ao conceito pós-moderno de identidade, devido aos processos de hibridização cultural.
O sujeito pós-moderno, segundo Hall (2005, p. 13), é

[...] conceitualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. [...] A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidade possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente.

As identidades, como mostra Hall, estão em constante processo de formação a depender dos fatores sociais que agem sobre os indivíduos. Daí a concepção do termo “identificação”, uma vez que, à medida que esses fatores – ‘as interpelações dos sistemas culturais’ – se apresentam, as pessoas se identificam de acordo com cada circunstância. Os processos que desencadeiam as identificações são múltiplos e por isso geram uma dinâmica favorável à não fixação permanente das identidades.
A identidade, de acordo com sua concepção pós-moderna e enquanto resultado das atribuições culturais, é vista como uma manifestação muito mais flexível, uma vez que tem sido mais difícil a tarefa de se situar num ambiente mediado e formado por uma constante hibridização cultural (Canclini, 2003). Os sujeitos passam a assumir diversas identidades que não existem mais como algo unificado, mas que respondem a momentos específicos e a contextos diversificados. Daí a necessidade de se formular estratégias que permitam que, mesmo com a hibridização das culturas e formação múltipla das identidades, sejam construídos aspectos que reúnam os indivíduos em categorias de acordo com algumas características comuns ao grupo e que permitam que esses se sintam como parte de um todo. Deve-se encontrar, portanto, formas de se costurar as diferenças decorrentes das várias identificações, a fim de constituir certa homogeneidade capaz de classificar os indivíduos segundo particularidades que os definam.
Para Hall “uma forma de unificá-las tem sido a de representá-las como expressão da cultura subjacente de ‘um único povo’. A etnia é o termo que utilizamos para nos referirmos às características culturais – língua, religião, costume, tradições, sentimento de ‘lugar’ - que são partilhados por um povo”. (Hall 2005, p. 62).
Dessa forma, a literatura adquire o status de representação identitária cujo funcionamento age como fonte de significados e suscita a abordagem dos aspectos culturais da sociedade a que se refere. A partir dessa abordagem pode-se inferir que a construção de traços característicos que compõem as identidades são provenientes das representações que abarcam e sintetizam os elementos da cultura.    A representação literária estudada, por exemplo, apresenta o potencial de retratar com grande riqueza os aspectos da cultura regional, permitindo que a identidade seja consolidada a partir de sua dimensão local.
Outro aspecto relevante que se refere aos produtos culturais que visam a reafirmação das identidades é que estes funcionam, ainda, a partir de algumas estratégias a fim de situar as origens de um povo através de narrativas que agem como mitos fundadores ou lendas de tradição oral, construindo os sentidos que compõem as identidades (Bhabha, 1995). Esse aspecto se verifica, assim, na literatura, na cultura popular e na mídia e através de estratégias discursivas que objetivam gerar a noção de continuidade, de tradição e de intemporalidade. A crença em um passado imaginado (Hobsbawm, 1997) e comum a todos edificado pelas narrativas literárias, e outras formas de representação cultural, orientam os indivíduos na história de formação da sua coletividade e preenchem de sentidos suas identidades.  Desta maneira, a partir da produção cultural é possível que as pessoas de determinado local sintam-se agregadas, compartilhando modos de se comportar e pensar, vivenciando um sentimento de cultura partilhada.
Os produtos culturais, como a literatura regional, são vitais no processo de constituição das identidades locais, pois funcionam como forma de representação dos aspectos culturais que as caracterizam tal como se manifestam socialmente. O estudo da obra Iararana permite, deste modo, perceber a literatura como reflexo da cultura retratada e também como uma estratégia narrativa de reafirmação e valorização da identidade sul-baiana.


REFERÊNCIA

COSTA, Sosígenes. Melhores Poemas. Organizado por Aleilton Fonseca. Rio de Janeiro: Global Editora, 2012.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 05/03/2015
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