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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
Um Office boy de valor
Um menino pobre, mas muito responsável já aos 15 anos, foi levado pelo pai para trabalhar, como Office Boy, numa mesma empresa onde ele trabalhava, com a tarefa de levar e trazer papéis, fazendo depósitos e pagamentos nos bancos.
Tudo ia bem, quando um dia de segunda feira o menino recebeu o saco de dinheiro do movimento de sexta e sábado, junto com as duplicatas e as contas a pagar para levar ao banco e depositar. Colocou o pacote dentro da sua mochila e pendurou nas costas. Aquele moto boy da empresa foi para o banco, naquele tempo todo mundo trabalhava e/ou estudava, ninguém ficava fabricando filhos para ficar em casa sem fazer nada, recebendo dinheiro assistencialista de governos.
Como ele era muito comunicativo, raramente pegava fila, mas naquele dia a fila estava pequena e ele ficou ali, esperando a sua vez. Ao chegar a sua vez ao caixa nº 2, entregou o pacote para fazer o depósito do dinheiro da empresa. No meio do depósito havia um cheque no valor de R$ 500,00.
Tudo certo recebeu os recibos dos depósitos e dos pagamentos, voltando para a empresa às 11 horas, onde deixava anotado tudo que ele havia levado para o banco, para que na volta pudesse saber se tudo o que foi fazer deu certo.
Ao conferir os pagamentos, percebeu que o caixa do banco havia feito o depósito de forma errada, pois digitou o cheque de R$ 500,00 como de R$ 5.000,00 favorecendo a empresa. Naquele momento, um dos donos entrou no escritório e perguntou se estava tudo bem. O menino parou um pouco e achou conveniente dizer logo o que aconteceu. Para a sua surpresa, foi orientado a “deixar para lá, pois agora o dinheiro era da empresa, pois o banco tem seguro”.
O menino nunca pensou de receber aquele tipo de orientação. Um pouco depois do meio dia foi para casa ali perto almoçar com o pai. Sentados durante a refeição, o menino falou com o pai sobre o ocorrido. Tal foi a indignação com a orientação que o menino recebeu e o pai disse que ao final do dia ele deveria ir ao banco e informar ao caixa sobre o ocorrido.
- Mas se quando o dono da empresa souber que eu desobedeci a ordem de deixar para lá?
- Você diz que recebeu uma ligação do banco, que descobriu o depósito errado e chamou você para ir lá consertar.
- Hummm está certo.
Como o banco fechava sempre às 16h, o menino moto boy avisou que iria dar uma saída e foi ao banco. Ao chegar à porta, pediu para entrar, mas para a sua indignação, os vigilantes não deixaram. Ele insistiu que queria falar com o gerente ou com o caixa nº 2, pois era muito importante.  
- Não pode! Saia daqui garoto! - Gritou o vigilante, já ficando irritado.
Naquele momento dona Marina do cafezinho, que estava na rua, foi chegando para entrar, reconhecendo o menino, pois todo dia ele estava ali para fazer tarefas da empresa onde trabalhava.
- O que foi? - Perguntou a senhora.
O menino explicou. Ela pediu que ele aguardasse que ela iria falar com o gerente.
Lá dentro ela falou com o gerente que o menino queria falar de uma coisa importante para o caixa nº 2. O gerente mandou o menino entrar. Não havia mais ninguém nas filas, pois naquelas horas os caixas fazem os trabalhos internos e o fechamentos do dia.
Ao entrar na agência, já era cinco da tarde, e ao chegar à frente do caixa nº 2, o menino entregou o recibo e explicou que a autenticação havia sido feita errada, contra o banco e a favor da empresa.
O caixa, que já estava quase enlouquecendo, abriu um grande sorriso e disse que o seu movimento estava com uma diferença de R$ 4.500,00.
Quem já trabalhou em banco sabe que essas diferenças que se dão em “noves fora” sempre é uma inversão, e para esse tipo de problema não existe seguro. Quem paga é o funcionário.
O caixa nº 2 arrodeou a bateria dos caixas e saiu para dar um abraço apertado no menino, gritando:
- Gente, esse menino é de ouro. Veio trazer a solução para meu problema. Ele será um grande homem, honesto. Pode até, quem sabe, ser bancário um dia.
Foi uma premonição. Uma felicidade para o garoto, que lembrou naquele instante de mais esse ensinamento do pai durante toda a sua vida.
Ao chegar à empresa encontrou logo na entrada o dono, informando do ocorrido, e que o pessoal do banco ligou para ele ir lá, para acertar o recibo do depósito.
- Que pena! Se foi assim, está certo também, mas se não descobrissem o banco tem seguro para cobrir a falta do dinheiro no caixa.
Claro que ele estava todo errado.
A praga que foi jogada pelo caixa nº 2 pegou. O menino acabou passando num concurso de um banco federal, chegando até a função de gerente, trabalhando até se aposentar por tempo de serviço, mas nunca se arrependeu de ter tido dias iguais àquele quando ainda era um rapazinho, ajudando sempre que podia, recebendo até mesmo o título de “cidadão” de uma das cidades onde foi gerente, concedida por unanimidade da Câmara de Vereadores local.
Moral da história: Pau que nasce certo, não tem jeito, morre certo.

- Conto do autor, no Livro Rapsódia de um contador de histórias, Editora Becalete, 2018.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 31/05/2018
Alterado em 28/11/2018
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