Um grande poeta Brasileiro, chamado Antônio
Observação: Este poema é uma homenagem ao Amigo e Poeta baiano, Antônio Brasileiro, também pintor, ensaísta e professor de Teoria da Literatura da UEFS. Nascido em Rui Barbosa, Bahia, está me Feira de Santana desde 1972.
As frases e palavras a seguir foram retiradas das poesias do livro Poemas Reunidos (2005), editora Gráfica da Bahia.
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Saber amar
Como conter a ânsia de buscar, doar, domar?
Amar é temer a si nas horas cruas.
O amor me mata. Ai, o amor me mata.
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Saber brisar
Poesia irmã dos ventos, tranquiliza-me; há certezas?
O poema é só a invisível vibração de uma pétala na brisa.
Pisas em astros, te chamam poeta bobo.
Um dia ainda vou viver de brisas.
Há poesia, porque não para de inventar.
A poesia não aprende, nunca aprende.
Pequeno barco, imenso mar. Imenso mar.
Tracemos nosso destino, pensamento, sobre o imponderável e o leve.
O que não sou. Meus irmãos não sabem.
Eternamente esquecido. Para que não saibam sequer a que vim.
Mas os meus amigos bem sabem: não perdi nem estarei perdido.
Há coisas que não decifro. (poema Sífico e a lágrima – mas não tem lágrima)
Somos os mesmos amiga. Quase nada aprendemos com o vento que passa.
Eu passarei, meus versos não.
Meu fado é brando, branco é meu silêncio.
Digam que fui poeta, que isso basta.
Eis uma grande injustiça.
---------------------------------------------------------------------------------Saber calar
“Há os perfeitos, aqueles que não confiam em sombras.
Mas os perfeitos moram na barriga de Deus.
Nós não. Nós somos o grão que a terra não quis.
E zanzamos por ai, só isso.”
Mas eis que a vida se perde por falta
Jamais saberemos quem somos.
Nunca aprendemos nada: passa-se. Só.
A vida é mesmo assim: terrível encontro.
O que resta de mim é só a sombra.
Tudo está em ordem em minha vida. Como se faltasse alguma coisa.
Tão frágeis somos! Frágeis imensos.
Nós nunca sabemos tudo.
Parte de mim é bela. Parte é aquela vontade de fugir.
Minha vida é lapidar.
Toda essa inútil felicidade.
Amanhã será tarde demais.
E eu aqui calado.
Calar é saber.
---------------------------------------------------------------------------------Saber contar
Saudades no que pomos e no que, calmos, somos.
Real é o meu cantar e outro não há.
Para isso somos feitos.
E o que nos resta?
Contar.
---------------------------------------------------------------------------------Saber introspectar
O mundo não é o mundo, mas uma nuvem passando.
Minhas amplidões particulares cabem dentro do meu quarto.
Dentro de mim as retas não se encontram.
Alma tumultuada, essa dor – essa dor – não é minha.
Ninguém saberá deter essas forças do mistério.
Estou aqui e o mundo está aqui.
O mundo é só um pássaro na mão.
Espectador de mim mesmo.
O céu continuará a mesma coisa, eu continuarei o mesmo eu.
---------------------------------------------------------------------------------Saber seguir
Quem somos?
Toda verdade é só ponto de cruz.
O homem é só a sua sombra numa praça.
Deus é a criação do próprio Deus para fugir do tédio de ser só.
Quem pode traduzir o silêncio de Deus?
Que há comigo? Que tens?
Onde pouso? Onde teus braços?
Porque me deixas tão só nestes caminhos?
Passarei minha vida olhando aquela montanha,
a esperar que ela se renove.
Não se moverá, tenho certeza.
A tudo vi e meditei e clamo: ó saber-se divino e ser só homem!
Há labirintos sem fim no que dizemos.
Não somos da mesma cepa, mas vistos de binóculos somos os mesmos.
Com absoluta incerteza.
Urro diante do desconhecido.
Estamos todos certos. E sem rumo.
São coisas que não defino e nem sei como extirpar.
Qualquer solução é indissolúvel.
Eis pois que me descubro, puro como sempre fui.
Edificarmos no vento é o que nos resta.
O avesso de mim sou eu mesmo.
Metade de mim é mar.
Estou perdido e vou enlouquecer.
Meus segredos que eu mesmo guardarei e esqueci.
O homem é cheio de inquietação e tolice.
Onde pousar meus pobres desenganos.
E então partiste e para não voltar – E não voltaste.
Sabe que sigo só com meus passos?
---------------------------------------------------------------------------------Saber terminar
O tempo para a colheita não conhece tumultos no caminho.
O tempo para a colheita é calmo e silencioso.
A consciência é a voz do remorso.
Não vejo nada mais sublime que o tempo passando.
Passo a passo me convenço da inutilidade de tudo.
E agora que estamos quites (eu, falado; vocês esclarecidos)
Nasci e morri antes de mim.
Eu em mim morri todos os dias.
Pego minhas malas, parto, apago a luz,
Quem me escuta bem sabe que vou morrer amanhã.
Fecho a porta, adeus.
"Fodam-se".
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 29/07/2014
Alterado em 15/07/2018