A Chave do Poeta
Depois de correr sobre escombros, por onde a quimera bisbilhota o passado,
a idade reclama do tempo, pois o tempo nunca está do nosso lado.
Mas com a porta fechada, o tempo é quem vigora e não aponta a saída,
Onde estava aquela chave, que ninguém nunca encontra, por ela se achar perdida?
Se no bolso não estava, muito menos na algibeira,
que o tempo por teimoso, sempre segue na carreira.
A chave estava enrolada, no xale de uma doida, doida com um pergaminho, onde ela e uma fada, malvadas de mal caminho, esconderam no seu ninho.
Aberta a porta do quarto, a alma estava guardada, cada vez mais desalmada, por falta de amor, ferida.
Então foi que descobriu, que o segredo está na cara, que o tempo pescou de vara, numa falha sismológica, entre a entrada e a saída, a chave está perdida.
Confuso e tão perdido, o poeta mais desvalido pede alguém pra procurar.
Pegou logo uma caneta, viu o boi da cara preta, sem a chave encontrar.
Foi quando já um pouco tonto, escorou-se lá na porta, enrolado numa coberta.
A dobradiça rangeu, daí o poeta viu, que chave não carecia, pois a porta estava aberta.
Um poeta não se aperta e não fica sem saída, quando está de bem
com a vida se a caneta está por perto.
A chave é a caneta e o papel é aquela porta, basta um encostar no outro, pra acabar qualquer deserto.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 07/08/2014
Alterado em 27/02/2017