Um caipira numa agencia bancaria IV – Final
Depois que o caipira pegou o dinheiro no caixa do banco e acordou depois do desmaio, junto com o sobrinho pagou ao vendedor o valor das vacas, e voltou para a roça.
O vendedor já havia entregado os animais na roça do caipira. Depois de 90 dias daquele pagamento, o gerente do banco pediu para que o fiscal fosse até a zona rural a fim de verificar a qualidade das vacas compradas com o financiamento.
A visita foi programada e o funcionário do banco foi até a roça. Chegando lá, na manhã de um dia ensolarado, o caipira não se encontrava. A esposa Pirambeira, conhecida por uns como Pira, e para outros como Beira, disse que o marido teria ido até o posto de combustível na estrada para “botar gazosa na mota”.
O fiscal queria saber se a senhora poderia mostrar as vacas que foram compradas com o dinheiro do banco, mas ela respondeu que esse negócio de gado era só com o marido.
Ele então informou que iria visitar outra propriedade próxima dali, e voltaria lá pelo meio dia para ver os animais.
Ao chegar à outra fazenda, abriu a sua maleta e pegou o contrato, onde estava escrito: financiamento para a aquisição de um cavalo de raça, tipo Marchador, sendo o animal a única garantia real da operação financeira. Perguntou ao vaqueiro onde estava o senhor Uelistone Santos Santana Silva de Jesus e o cavalo que era a garantia do banco. O vaqueiro, preocupado, respondeu:
- Cuma? O senhor não sabia que ele foi embora? Trocou a mulher dele por duas potras novinhas num dia de uma cavalgada, e fugiu montado na garantia. Eu até sabia de alguém que sabia onde ele estava, mas tenho certeza de que ele não sabia que eu sabia. Quando fui procurar por ele, no lugar que eu pensava que eu sabia, ninguém sabia dele e nem da garantia.
Anotado no relatório do banco a fuga daquele mutuário montado na garantia, o fiscal voltou para a fazenda de dona Pira ou Beira, como queira.
Ao entrar na cancela, viu logo uma moto de 750 cilindradas dentro do curral do gado.
- Ô de casa! – gritou.
- É o fiscal do banco! Alguém lá de dentro da casa falou.
Saiu o caipira sabidão, com a cara de bestão.
- Olá seu fiscal! Quer almoçar mais nós?
- Não precisa se preocupar. Cadê a vaca?
- Cuma? Se for a minha mulher, ela está lá dentro com vergonha do senhor.
- Não é a sua digníssima esposa, quer ver as vacas que o banco deu o dinheiro para o senhor comprar.
- Deu dinheiro? Mentira. O banco me emprestou o dinheiro com juros.
- Sim, deixemos de lado as conversas. Onde estão os semoventes?
- Que diacho é semovente, homem? Viu como nossa região tá seca? Verde aqui só o papagaio.
- Vamos para o curral para ver o gado financiado. Preciso contar. Deveria comprar as vacas para tirar o leite e vender os bezerros que fossem nascendo.
- Cuma? Ver o senhor não vai ver, mas pode contar para quem o senhor quiser. Aqui nós num gosta de leite e tem pena de vender os bichinhos novos. Veja ali a minha moto potente. O cara da loja de motos dono das vacas me disse que 750 cavalos e muito melhor do que 10 vacas. Então o dinheiro que ele recebeu deu para me vender essa moto. Não precisa comer capim e nem beber água, que essas coisas aqui na roça não tem. Não fiz bem?
- Não podia fazer isso. Vou considerar a fiscalização tecnicamente irregular, devido às circunstâncias anômalas observadas para as medidas cabíveis.
- Hummm o que é isso moço. Além de não querer almoçar mais nós, ainda me enche de palavrão? Prometo que vou pagar. Agora sou moto-boy-taxi da roça. Só quero agora capinar criente, pegar leite e carne no supermercado com o dinheiro das minhas corrida. Tudo agora é nova vida. Tenho até o zapi zapi e agora sou mais gente. Tudo agora vem do estrangeiro, carne, sandália, tv, celular, ventilador, chapéu e até ladrões. Então me deixe em paz, rapaz. Vá tomar leite de vaca no peito de uma garrafa de coca cola.
O fiscal abaixou a cabeça e suspirou: - Que País é esse? – e foi saindo.
O caipira respondeu: O Brasil. - Aprendi tudo com vocês.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 21/03/2015