O padre bombeiro
Na cidade de Literacity existia uma comunidade com um padre diferente. Além de ser um pastor do rebanho de Jesus, ele também trabalhava no corpo de bombeiros. Seu nome era Izidro Dante. Quando ocorriam incêndios na cidade, ele sempre era chamado para ajudar a debelar o fogo. Nas missas, geralmente, ele contava as façanhas dos salvamentos e das dificuldades, e por isso ele era carinhosamente apelidado de Padre Hidrante.
Um dia ele contou que numa casa em chamas havia uma senhora que estava gritando no interior sem querer sair. Com um pouco de atenção, percebia-se que a voz da mulher dizia:
- Quero que o padre Hidrante venha me salvar!!! Só ele pode me salvar!!!
Mas quando o corpo de bombeiros chegou, o padre não estava junto daquela guarnição, pois era um domingo de manhã, exatamente no horário da missa dominical em sua paróquia. O telefone do padre, que estava com o sacristão, tocou. Alguém do outro lado falou:
- Venha depressa padre para a Rua da esperança, no bairro vida sem fim, na Praça do desespero, esquina com a Avenida salvação. O fogo está tomando tudo. Venha nos ajudar. Estamos ferrados!
Como ele já sabia daqueles códigos, pediu aos fiéis licença para atender aquele desespero, encerrou a missa, entrou na sacristia e colocou o capacete e a roupa de bombeiro, ligou a sirene da sua moto e saiu em disparada.
Chegando ao local, o fogo já estava tomando totalmente o prédio, mesmo com muita água jogada pelos bombeiros, sendo informado rapidamente que uma determinada senhora estava lá dentro e só aceitava sair se fosse com o padre bombeiro.
Ele entrou orientando que dirigissem a mangueira com água para as suas costas, e no interior da casa concentrassem a água na região da cozinha. Assim foi feito, dentro da casa em chamas foi diretamente para a cozinha onde a senhora estava quase morrendo de calor e asfixiada. Ao vê-lo, ela sorriu e se agarrou nos seus braços. As águas jogadas pelos bombeiros foram inundando tudo e os escombros foram caindo em suas cabeças. Ele olhou para a geladeira e jogou tudo que estava dentro para fora, puxou a mulher e entraram os dois, apertadinhos para dentro. O teto e as paredes restantes molhadas caíram.
Do lado de fora havia muito choro, pois parecia que os dois haviam morrido. A conversa da plateia que assistia o incêndio dava conta de que se a mulher tivesse saído antes, não teria morrido junto com o padre.
Quando os bombeiros conseguiram entrar, procuraram os corpos carbonizados, mas para surpresa de todos, no canto da cozinha ouviram bater na porta da geladeira, que por dentro não tem maçaneta. Ao abrirem, lá estavam os dois com pedaços das roupas queimadas, rasgadas e molhadas, sujos, sem fôlego e quase sem ar.
Ao sair, colocaram cada um numa maca da ambulância, e ela disse que foi um milagre ter chegado o padre bombeiro ainda em tempo, na certeza de que ele saberia como salvá-la.
A história correu o mundo, e na semana seguinte, durante as missas, com o padre contando toda a história novamente, nos mínimos detalhes, dando créditos à fé da mulher, que durante todo o incêndio esperava uma graça de Deus. Ao ser perguntado sobre a ideia da geladeira e de ir diretamente para a cozinha, ele explicou:
- Aprendi num treinamento que durante um incêndio em residências, a mulher corre sempre para a cozinha, onde se sente melhor e tem facilidade de encontrar água nas torneiras ou na geladeira. Diferentemente do homem, que corre logo para o banheiro, podendo ficar preso. A geladeira depois de desligada ainda conserva um pouco da temperatura fria interna por alguns minutos. Quando se tira as prateleiras, a parte interna dá condições de comportar uma pessoa folgada, mas na agonia ele preferiu entrar também para se salvar, ficamos agarrados feitos sardinhas numa lata.
Encerrou a missa no domingo dizendo:
- Portanto irmãos, estou sendo treinado para apagar o fogo das trevas da terra e do Céu. Aonde tiver fogo, contem com o padre bombeiro. Apago aqui e ali, mas só tem um tipo de fogo que eu não apago quando as mulheres me chamam.
Silêncio total.
- Vão em paz e que o Senhor vos acompanhe. – despediu-se.
- Graças a Deus – responderam os fiéis.
- Conto do autor, no Livro Rapsódia de um contador de histórias, Editora Becalete, 2018.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 08/04/2015
Alterado em 27/01/2019