Dr. Bloco - Um médico na construção
Na pequena cidade de literacity um médico trabalhava num hospital, e como o seu plantão estava tranquilo, resolver dar uma saída rapidinha e verificar como estava os serviços de ampliação na construção do seu consultório particular a duas quadras dali.
Era uma manhã, perto do meio dia. Ao chegar ao local foi recepcionado pelo mestre de obra, que mostrou o andamento das tarefas realizadas até aquele dia, mas estava com problemas para terminar o trabalho.
- Os trabalhos vão terminar mais cedo, se não comprarmos seis sacos de cimento e uma caixa de prego de aço nº 2 para fios de 1,50 mm² a 2,50 mm² necessários à conclusão de uma parte da edificação.
O médico que estava com pressa de voltar ao hospital, pois era o seu dia de plantão, não queria ver a obra paralisada mais cedo, e disse:
- Por falta de cimento e pregos não, pois vou dar dinheiro a fim de comprar o cimento e os pregos. Você pode fazer a compra?
Naquele momento o telefone do mestre de obra tocou e ele explicou ao doutor:
- Eu não poderei comprar, pois já é quase meio dia e terei de me ausentar para ir pegar a minha filha na escola e levar para casa, aproveitando para almoçar, mas que se o senhor fizer uma notinha e colocar o dinheiro dentro do papel, deixe embaixo daquela marmita de tonhão, ali na sala em reforma, que o pedreiro irá fazer as aquisições logo que ele descer do telhado, após almoçar.
O douto entendeu e fez o que o mestre de obra orientou, saindo gritando para tonhão:
- Vamos deixar dinheiro e uma nota aqui embaixo da sua marmita. Você compra depois de almoçar, viu? Porque eu vou em casa agora resolver um problema.
Pegou a sua moto e saiu.
O médico abriu sua pasta e procurou um papel para fazer a nota, mas só tinha um talonário de receita. Abriu o papel, pegou a caneta e escreveu:
“Comprar:
Seis sacos de cimento
Uma caixa de pregos de aço número dois, para fios de 1,50 mm² a 2,50 mm².
Obs: tudo para usar depois das duas horas da tarde.
O doutor colocou o papel e o dinheiro como sugerido, saiu da construção, pegou o seu carro e voltou imediatamente ao hospital.
O pedreiro logo depois desceu, levantou a marmita e pegou o bilhete com o dinheiro. Botou a comida no fogareiro para esquentar, almoçou e depois apanhou o dinheiro e o bilhete do doutor e seguiu para a rua andando, mas bateu uma dúvida:
- O que é para comprar?
Mas estava tudo escrito no papel, era só olhar. Abriu o papel, e como tinha pouca leitura, olhou, olhou, e nada. Parou uma senhora e perguntou:
- Minha senhora, pode ler o que está escrito aqui. Tenho pouco estudo e não estou entendendo nada.
A senhora olhou, olhou, e nada.
- Não sei não, rapaz. Desculpe.
O pedreiro andou mais um pouco e parou um senhor, fazendo a mesma pergunta. E nada! Mas esse pelo menos prestou uma boa orientação.
- Com se trata de uma receita médica, quem vai saber ler de verdade é uma pessoa de balcão de farmácia, pois esses escritos medicamentosos são como outra língua que somente os funcionários das farmácias entendem.
- Boa ideia! Uma luz foi acesa.
O pedreiro andou por mais dois quarteirões e entrar na farmácia, entregando o papel ao balconista, que prontamente disse:
- Nós temos!
Foi lá dentro, pegou uma garrafa do linimento tipo gelol (de pancada) e uma caixa de xarope e entregou ao moço. Ele nem discutiu, pagou e voltou para trabalhar. Quando o mestre de obra chegou depois das 14 horas, os pedreiros estavam sentados, tomando xarope e passando o linimento cheiroso nas pernas e nos braços. Tonhão entregou o papel e o troco. O mestre de obra gritou:
- O que é isso Tonhão?
Moral da história: quem for obrigado a entender o que não lhe ensinaram num momento de febre, corre o risco de comer gato por lebre.
- Conto do autor, no Livro Rapsódia de um contador de histórias, Editora Becalete, 2018.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 20/04/2015
Alterado em 28/11/2018