Fiscalizando os Fiscais do Banco
Observação: Essas frases foram retiradas de relatórios que os fiscais de um banco federal faziam e entregavam aos gerentes depois das viagens de vistoria e fiscalização das atividades rurais financiadas na década de 90, e de tão engraçadas, eu fui guardando para escrever um dia, e deixar como páginas de humor de uma época que a gente era feliz e não sabia.
(Os nomes dos funcionários serão propositadamente omitidos, pois a ideia não é expor ninguém, e sim transformar as frases em momentos lúdicos. Claro que muitas foram refeitas, a pedido das gerências das Unidades)
Nos relatórios constavam as seguintes frases:
1. Os equipamentos financiados, apesar de não estarem funcionando, estão muito bem guardados sobre as árvores;
2. Não é querendo me gabar, mas eu acho que o cliente é um cavalo;
3. Quando eu procurei o cliente para me mostrar a cerca que ainda não estava construída na fazenda, quem me apareceu foi a mulher dele para mostrar aonde ele guardava a estaca;
4. Aquele trator não está fazendo nada na fazenda. Tá lá encostado, parecendo um velho aposentado. Vai ficar com a roda enferrujada;
5. Fui ver o trabalho, mas estava tudo uma porcaria. Eu até gosto de inseminação artificial, mas daquele jeito não tem ninguém que suporte;
6. Até que ele gastou o dinheiro, Deus sabe no quê, pois o curral não está feito ainda e as vacas ficam reclamando do sol e da chuva. Coitada delas;
7. Fiscalizei um pampa (carro da época) novinho que ele desviou dos carneiros financiados. É bom chamar o cliente nos eixos;
8. Bodes que se prezam não entram num aprisco desgraçado daquele. Parece mais uma pocilga ou um galinheiro de sujeira e de poleiro. Isso pode dar bode e os animais morrerem;
9. O bicho vai pegar e o cliente não vai pagar ao banco. Ele vai dar tôco. Ainda não plantou nada e a chuva caiu. Se ele não tiver uma carta na manga, o pepino vai ficar para o gerente, e depois digam que eu sou agorento;
10. Aquela fazenda está uma beleza, a bezerrada puxou a dona, esposa do cliente;
11. O cliente morreu desde o ano passado e ainda não tinha avisado ao banco. Tomei um susto quando eu vi o filho dizendo;
12. Como é que o gerente da fazenda me oferece um carro para andar no pasto, se eu gosto é de cavalo? Se aquele cavalo tivesse me perguntado, eu teria dito, pois esse segredo eu não escondo de ninguém;
13. Cheguei às 8 horas na fazenda, Bati palmas, buzinei, gritei, chamei até as 11 horas, e ninguém. Percebi uma fazenda abandonada e triste. Que sorte ingrata;
14. Ele pode até ter vacinado, como a carta diz, se ela está mentindo, eu não sei, só sei que chegando lá, não achei nenhum vestígio de marcas das vacinas nos animais;
15. Um curral é um curral. Um cercado é um cercado. Um galinheiro é um galinheiro. Um besta é um besta, mas eu não sou besta. Vi um cercado de bambu com muita bosta de galinha. Essa eu não engulo;
16. Já ouvi contar histórias de fantasmas, mas não vou constar nesse laudo animais que eu não vi, mesmo que digam que estavam lá. Só se fossem invisíveis.
17. Ao chegar, a mulher do cliente estava sentada naquele penhor pecuário (garantia de animais), andando alegremente na propriedade. Uma excelente égua;
18. Naquele dia o cliente não estava. Aceitei tomar um café, mas a mesa ainda estava suja do café da manhã. Desconfiei de separação. Perguntei e acertei na mosca;
19. O cliente está devendo e não vai pagar por causa da estiagem financeira que está sobrevoando a região;
20. Subi ladeira andando com todo esforço para ver o boi financiado num pasto que só cavalo subia, mas ao chegar lá em cima o bicho não recompensou com a sua ausência;
21. Estava muito lameada a estrada, pois subi, subi, subi e depois percebi que praticamente não sai do lugar. Não poso dizer o que vi;
22. Atolar até que atolei, mas o problema foi sair com o carro do atoleiro, porque depois que ele entra, fica difícil tirar sem uma mãozinha de Deus;
23. Achei tudo normal na fazenda, inclusive a falta de pedaço das vacas nelore, que naquele dia havia saído para tomar banho;
24. Se estava quente? Bota realmente quente nisso. Andamos perto do meio dia, e bota parecia de ferro e o meu sapato uma bigorna. Foi muita crista de galo. Antes fosse de cavalo;
25. Aquele cliente é desmarcado sempre que o banco avisa da nossa visita. Ele só arranja desculpa porque naquela região tem outros desmarcados, por falta de acesso às propriedades em tempo de chuva venenosa;
26. Sou favorável que ele faça tudo direitinho, mesmo ele falando que está doente, mas sou contra, se ele falecer.
27. Não é que eu queira baixar o pau, mas a madeira comprada não é aquela vendida. Quem não entende, pode até ser enganado;
28. Numa sucessão de lapsos, o engano foi a dúvida que ficou da indecisão entre a proposta da vaca e a aceitação do boi;
29. O curral estava pronto, com material de segunda, por isso o rebanho estava mal agasalhado;
30. Só porque eu disse a ele que eu iria colocar no laudo o que estava errado do seguro da lavoura, ele plantou uma corrupção em minha mão. Ficou muito chato;
(Esses e muitos outras frases fazem parte dos contos do meu próximo livro, que será lançado na UICLAP, em fevereiro de 2023)
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 03/06/2015
Alterado em 23/02/2023