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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
De quanto foi o roubo?
Numa pequena cidade muito quente do interior do país, onde só existia uma agência bancária, a população pobre às vezes frequentava aquele local somente para saborear a frescura do ar condicionado. É tanto que antes do almoço ou antes do horário do fechamento da agência os moradores enchiam aquele local. Enquanto isso, o único caixa ficava ali, parado, olhando o pessoal entrar e sair de perto do aparelho refrigerador. Era, portanto, um lugar muito calmo.
Ocorre que aquele banco era centralizador do dinheiro para outras cidades menores vizinhas, e todos os dias os carros fortes entravam trazendo dinheiro nas segundas feiras, e saíam da cidade, levando dinheiro nos dias seguintes.
Os vigilantes já eram conhecidos dos moradores, que traziam farofa, pedaços de jaca, bananas, laranjas descascadas, café e pão, dentre outros alimentos.
Numa segunda feira, próximo das 11 horas chegou o carro forte com muito dinheiro. A agência estava cheia de pobres tomando aquele ventinho do ar condicionado, de bermuda, sandálias e camisetas, como se estivessem em casa ou jogando dominó ali na praça.
Os vigilantes entraram e colocaram o dinheiro no cofre, comeram bananas, pedaços de jaca e tomaram café com leite e pão. Depois foram embora. Como num passe de mágica, chegaram dois carros, em alta velocidade, pararam na frente do banco e desceram seis pessoas atirando, quebrando as portas de vidro da agência, gritando que só queriam o dinheiro do banco que, segundo eles, tinha seguro, e o banco não teria nenhum prejuízo. Quatro deles entraram na agência.
Renderam os vigilantes internos do banco, tomando seus revólveres, dando ordem que os gerentes abrissem o cofre que estava cheio. Como aquele ambiente estava muito lotado, pediram que todos ficassem deitados no chão, o que não deu quase espaço para ninguém andar naquele local. Com dificuldade, dois deles conseguiram levar o gerente da agência e o gerente financeiro, abrindo o cofre com certa dificuldade, quando o celular do chefe do bando toca, e ele tem o seguinte diálogo com um comparsa que ficou em cima de um morro na entrada da cidade, que viu duas viaturas chegando perto da cidade:
- Alô ! O quê? O quê? Estão chegando? – e gritou com toda a sua voz:
- Vixe! Vambora daqui turma. Sujou! Os milicos estão chegando. Parece que alguém dedurou nóis aqui no banco. Pega o que puder e corre! Chispa! Escorrega! Vaza!!!!
Os dois pegaram o que puderam e encheram dois sacos e os bolsos, e saíram correndo, entraram nos dois carros que estavam ligados na frente da agência e saíram na direção contrária na cidade, para não se encontrarem com a tropa da polícia que vinha em direção à cidade.
Em poucos minutos os policiais entraram fazendo barulho com a sirene ligada. Uns diziam:
- Assim eles avisaram de longe que estavam chegando, para os bandidos fugirem.
- Não, nada disso. - disse um contrário na praça.
- Eles avisam é para os bandidos não atirarem em nóis.    
Certo ou errado, eles pararam na praça, deitaram na grama, apontando as armas de alto calibre para o banco. As pessoas avisarem que o assalto já tinha acabado. Que eles poderiam entrar no banco.
Aos poucos eles foram se levantando, entraram na agência, pegaram uma fita amarela e cercaram a área para que ninguém fosse até o cofre, que ainda estaria aberto. Os poucos funcionários que ali trabalhavam foram chamados de volta da rua, para responderem algumas perguntas dos policiais.
Tudo calmo, o assalto foi avisado aos superiores do banco na região, que suspendeu as atividades da agência até o fim das diligências e outros procedimentos investigatórios.
- De quanto foi o roubo? – era uma pergunta dos fuxiqueiros de plantão.
- Será que o seguro vai pagar? – perguntavam outros.  
Mas na realidade a maioria da população, e em especial aquelas pessoas que estavam dentro do banco, elogiavam muito a atitude dos bandidos, que não mataram ninguém.
- O banco tem seguro. – lembravam os jogadores de dominós da praça.
O banco mandou especialistas e em poucos dias os vidros foram consertados, voltando a normalidade dos trabalhos.
Naquela praça, na frente da agência, existia um serviço de som, ligado numa rádio local. Por ali passavam aquelas pessoas que gostavam de entrar na agência para tomar um pouco de ar condicionado, mas sempre parando nas bancas de jogos do bicho ou nos tabuleiros de dominós e jogos de damas da praça.
Quase todos os dias, durante quase um mês, a rádio dizia que a polícia ainda não havia localizada os ladrões dos $ 500 mil dos bancos. Mas para a surpresa de todos, e felicidade de poucos, olhe que teve até gente que soltou fogos ao saber, naquela manhã prenderam um dos ladrões numa cidade grande próxima, e ele iria dar uma declaração ao repórter daquela rádio ao meio dia.
- Vamos ouvir a entrevista! Bota outra pinga para mim. Aumenta o som. – gritou Zé foinha, um dos maiores biriteiros da cidade, sentado no bar “A prassa é Noça”.      
Ao meio dia, um sol quente de matar, o jornalista César Zarado da rádio anunciou:
- Agora, no programa “Bala perdida”, o repórter Ascado Rego vai entrevistar um dos bandidos que assaltaram o banco da nossa cidade.
- Fala Ascado Rego!  Com quem você está ai na cidade grande?
- Olá meus rádio ouvintes da rádio Bragança, falando para a cidade e cochichando para a vizinhança! Estamos aqui com Pistolão Canteiro, mais conhecido como pistoleiro. Pistola, conte para a população da minha cidade como foi o roubo de $ 500 mil do banco.
Um pouco de silêncio, o homem pensou, pensou e disparou:
- Que quinhentos? Para começar, no que se refere ao roubo, eu quero dizer que o roubo não foi de $ 500 mil. Saímos correndo naquele dia e só deu para levar $ 120 mil, pois a polícia ia chegando ...
- Corta, corta! – Gritou César Zarado. A entrevista foi interrompida e César completou:  
- O telefone deu problema. Problema na linha. A linha caiu ...
Silêncio na rádio, silêncio na praça.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 15/05/2016
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