O menino e o Meteorito de Bendegó
Um pouco antes de 1784, num monte santo de uma pequena cidade do interior do sertão do Nordeste, onde quase não chovia, existia uma casinha ao pé daquela serra, que também era chamada de mandacaru, com plantações secas e apenas uma única árvore verde e viva, que era um mandacaru - por isso o nome do monte/serra. Ali morava uma família muito pobre, com o pai Bernardino Botelho, dois meninos e uma menina, o mais velho era Domingos Botelho, mais conhecido como Bodengó, com 12 anos.
Numa noite de dezembro, lá pelas 21 horas, já perto do dia do Natal, Bodengó estava chorando sentado na porta da casa olhando as estrelas no céu, triste e pensando no presente que poderia não ganhar alguns dias depois, pois os seus pais não tinham dinheiro para comprar presente.
Num determinado momento, como um milagre, uma estrela desceu do céu e passou do alto para baixo, deixando uma estrada de luz, clareando a serra do mandacaru, caindo ali perto, no leito do riacho seco. Inicialmente ele ficou com medo, mas não quis entrar para falar com a família, que já estava dormindo. Ficou calmo quando viu chegar uma luzinha em forma de um passarinho, que parecia conhecer o garoto, e perguntou:
- Menino, o meu nome é Siderito, um octaedrito, e fui mandado do céu para atender um pedido de uma criança que tivesse o nome de Bendengó, eu achei estranho que isso fosse um nome, mas como é o seu nome?
O menino assustado e falou com a luzinha.
- Meu nome não é Bendengó, é Bodengó. Eu vi essa luz caindo mesmo. Pensei que fosse uma estrela de Natal, e que este ano seria diferente, pois meu pai nunca teve condição de dar nenhum presente aos seus filhos, por causa da seca, principalmente nessa época de fim de ano. Aqui todo mundo é sofredor, vendo gado e plantação morrer, e o riacho secar.
- Então essa pedra do céu vai ser sua, e se chamará Meteorito de Bendengó, para ficar parecido com o seu nome. Mas o que você quer de presente na noite de Natal?
Para surpresa da luzinha, o garoto não pediu nada para ele especificamente. Depois de pensar, pensar e pensar, pediu:
- O que eu mais quero é que a seca acabe, para que os meus pais possam plantar e colher alimentos na roça. Somente assim a gente poderá comer melhor, matando a fome de muita gente da região.
A luzinha deu um “thau” e voltou voando com alegria para a pedra, e logo sumiu.
Poucos dias depois, na noite de Natal, começou a chover na região, nascendo plantas e enchendo o rio seco que por ali passava. Tudo ficou verde na terra e na serra.
Se aquela pedra do céu existe, deve estar guardada em algum museu de uma grande capital daquele país, mas esse segredo ficou lá em Bendengó.
A seca continuou nos anos seguintes, pois levaram a pedra do céu, e outra nunca mais voltou a cair naquele local. Com certeza, se pegarem e levá-la novamente àquela região, e com fé alguém fizer novo pedido, teremos novos milagres. O milagre persiste, se a fé perdura.
Será que essa pedra existiu mesmo.
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- Conto do Livro Luiz Vaz de Camões e convidados. Vol. II - Editora MágicodeOz, 2018) e do Livro Tributo ao Sertão, Helvétia Editora, 2018.
João Bosco do Nordeste e Diversos - Antologia
Enviado por João Bosco do Nordeste em 18/05/2016
Alterado em 15/01/2022