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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
Um celular explosivo
Na cidade de Literacity, todas as vezes que Tonito passava pela rua do desespero, seu celular era roubado. Eram tantos roubos na região, que já se sabia quem roubava, os momentos mais perigosos, e a quem eram vendidos, chamados de receptores. Na entrada da rua a polícia colocou um outdoor enorme com o seguinte aviso: “em caso de assalto não resista para não perder a sua vida”.
- Como assim? Eles podem andar armados e a gente não. Eles reagem e fazem o que querem com a gente, e a gente não pode reagir? – perguntou Tonico.
Nosso herói Tonito questionava porque todos os bandidos estão armados, e o cidadão não pode usar arma. Por que a polícia orienta a não reação e não ensina o cidadão a se defender e nem está nesses locais de assaltos?
Perito em explosivo TNT líquido, ele conseguiu colocar um dispositivo que ao ser acionado à distância ligando para um número específico, o celular explodia nas mãos do bandido. Tudo preparado, lá foi o nosso homem bomba.
No dia seguinte, seguindo pelo mesmo caminho, chegou uma moto com dois rapazes e deram a senha “perdeu!”, entrega o celular. Ele precisava testar o seu invento.
- Calma aqui está o celular novinho, nem paguei ainda.
Eles muito nervosos só gritavam: - “perdeu, perdeu”.
Tonito entregou o celular sem reagir, conforme a polícia houvera orientado, não olhou para o rosto do bandido, já conhecido de tantos outros roubos, que ao pegar o celular ainda sussurrou: “esse é do bom”, e saíram correndo.
Andou um pouco o nosso herói, meteu a mão dentro da cueca e apanhou outro celularzinho, num bolso igual daqueles que os políticos corruptos fazem para carregar dinheiro roubado do povo. Quando o ladrão já estava há uns dois Km, ele ligou o número e pum! Explodiu no bolso do jaleco onde estavam outros dois aparelhos. Lá se foi um pedaço da barriga e das costas do piloto, perdendo o equilíbrio e caindo em alta velocidade na pista de asfalto. Se o aparelho estivesse no bolso da calça, poderia ter perdido o bilau. Ninguém sabe o que ocorreu depois, pois bateria de celular quando explode é um desastre. Basta ver várias imagens que estão na internet.
Outra vez que ele foi roubado, seguiu os ladrões até o local perto do mercado popular e apertou o dispositivo quando os receptores compraram o aparelho. Não precisa repetir o que aconteceu.
Tonito hoje é um médio empresário do ramo de telefonia móvel, vendendo a sua patente do dispositivo, recebendo os créditos por cada aparelho vendido, vivendo num país muito distante de Literacity, num paraíso fiscal.
A partir daquela invenção, é possível ver nas ruas daquela cidade, principalmente nas regiões de maior nível de criminalidade, pessoas maiores ou menores de idade, recebendo a mesma punição, perdendo uma ou até duas mãos. A cada dia, mais e mais, nas redes sociais postam mensagens de cuidados com essas baterias de celulares.
Nas regiões que os celulares colocam esse dispositivo acabaram os roubos.
Antes de mudar para outro país, ele ainda criou também um sistema parecido para roubo de carros, com os ladrões dentro.

(Lembro aos leitores: esta é uma obra de ficção).

- Conto do autor, no Livro Rapsódia de um contador de histórias, Editora Becalete, 2018.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 29/05/2018
Alterado em 28/11/2018
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