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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
Um manicômio chamado Aeroporto. (parte I)
Um manicômio chamado Aeroporto. (I)

Sou um pequeno empresário, que pela primeira vez foi fazer uma viagem de avião, aos 70 anos, pois até então o medo não deixava. Foi o meu filho advogado quem pagou as passagens e me acompanhou, para que eu não ficasse com medo ou cometesse muitas burrices.

1. Ao chegar: percebi que tem sempre alguém com quem a gente vai conversar e a cada momento empurrar para filas, que vão afunilando até a entrada dos aviões. Ao chegar ao balcão com uma mala, uma senhora funcionária da empresa aérea me perguntou:
- Bom dia! O senhor já fez o check inn?  
- Como assim? Meu filho aqui já pagou a minha passagem com o cartão dele, e ainda eu tenho de fazer um chequinho? – Não sei qual a razão, mas meu filho sacana deu uma boa risada.
Depois de tudo explicado e recebido a minha mala, a senhora me entregou um papel com o número da mala, parecendo com aqueles que a gente recebe nas viagens de ônibus nas rodoviárias. Disso eu entendo bem, porque sou estradeiro.

2. Preparação para embarque:
Como o voo iria demorar quase duas horas, fiquei sentado ali perto daqueles locais que se carrega a carga de celular. Atento a tudo e a todos, esperto para não errar nas próximas viagens. Percebi que os autofalantes vão se atrapalhando com números, empresas e portões de embarque. Gente, como eles mudam os números dos portões, mesmo faltando poucos minutos para a decolagem, quando começa uma correria pelos corredores de um lado para outro, parecendo uma disputa de atletismo. Outros arrastam os pés, atrapalhando a circulação, como se estivesse na roça ou pisando numa areia movediça.
Fiquei olhando algumas pessoas tão arrumadas que pareciam estar seguindo para um casamento ou desfile de modas naquele local. Vi umas mulheres maquiadas e outras malcriadas na imagem, uma coisa horrível. Outras com tanto botox, que quando andam balançam. Uns homens com roupas de casa, até com calções de quem estava lavando o carro e saiu para o aeroporto. Outros tão arrumados de paletó e gravata, que pareciam todos advogados ou senadores da República. Uns levam tantas malas, que parece que estão de mudança para outro planeta. Outros carregam nas costas apenas uma mochila, como se fossem a um piquenique.
Uma coisa horrível, todos de cabeça baixa olhando celular, smartphone, tablet etc. Ninguém conversa com ninguém. Outros com headphones enfiados nos buracos dos ouvidos, dando risadas altas ou fechando a cara quando ver alguma notícia miserável, mas para quê partilhar, se ali ao seu lado não tem ninguém? Tem gente até assistindo filme com legenda e não sei como consegue ler. Sim, você pensa que tem louco pior? Vi um com bolacha numa mão, o celular na outra e o headphone no ouvido, de vez por outra enfiava o celular na boca pensando que era a bolacha, sempre depois olhava para os lados desconfiado, para ver se alguém teria visto aquela maluquice.
E as crianças? Pequenas loucas. Ficam correndo desgovernadas e muitas vezes longe desses pais internetados e celularizados, por outro lado as mães copiando exatamente o que os maridos estavam fazendo. Quando olham no meio da multidão e não enxergam os doidinhos, é uma gritaria de desespero gritando o nome dos danadinhos. O pai não está nem ai, nem se mexe, e continua dando risada olhando para seu smathphone, lendo seus zaps, facebook e noticias em tempo real dos aplicativos dos jornais e emissoras de TV.
E os seguranças? Quase sempre gordos ou gordas, parados olham de cá para lá, e de lá para cá, nas portas dos banheiros observando se o povo que está saindo com a braguilha da calça aberta, será? Mas educados, eles não falam nada, pois não tem nada a ver com as aberturas de ninguém.
- “Povo mala, empurrando mala” – alguém o meu lado sussurrou.
- Entendi. São os caça-beldades os caça-artistas, os caça-heróis, os caça-bbb etc. Precisam tirar uma self com alguém que entenda como famoso para postar nas redes sociais, pois sozinha não tem qualquer valor. – assim devem pensar. São as loucuras da arte.
E os funcionários das companhias aéreas? Com as suas fardas padrões andam como estátuas de pernas moles ou como uns postes no meio do povo, sem palavras ou gestos seguem com a sua malinha de reposição de maquiagem e da camisa social, num ar superior, sem mesmo estarem ainda no ar dentro do avião. Loucuras enigmáticas.
E as vendedoras das lojas? Quase sempre atenciosas, buscam os clientes que passam ou até mesmo os sentados na espera dos voos em seus lugares destinados a passageiros. Outras ficam sentadas atrás dos balcões, com o semblante cansado daquelas suas atividades estressantes, no ambiente com ar condicionado, cheiroso e higiênico. Loucuras calmas.
E o pessoal de apoio? Fica limpando os corredores, os banheiros e as dependências aonde estão os passageiros sentados. “Dá licença aqui”...” Dá licença ali”, é o que mais se ouve, em pleno andamento do atendimento, embarque e desembarque das pessoas.
Vi também os farofeiros e fiquei surpreso, pois pensei que só existia nos ônibus e nas praias mais frequentadas.  De uma hora para outra eles chegam e sentam nos últimos bancos pertos das paredes, abrindo uma sacola, tiram uma vasilha de tupperware e começam a fazer o lanche. Farinha no canto da boca comentam:
- Aqui é tudo muito caro. Tem de economizar para pagar a passagem de volta. Cada um tem o direito de ir e vir, inclusive indo e vindo com o nosso lanche barato.
Os passageiros desesperados às vezes perdem seus voos, porque olharam nas telas de informes o local do seu embarque, e logo depois deu um cochilo de 5 minutos, quando olha novamente, o avião correu e mudou de portão. Com um coitado perto de mim aconteceu e quando percebeu saiu correndo num grande aeroporto em busca do portão gritando:
- Onde é o 225? Onde é o 225?
Em certos momentos parece uma boiada sem rumo, levantando e correndo em direções opostas quando o serviço de som avisa: “Atenção senhores passageiros, o seu voo nº tal de para tal cidade foi mudando do portão 01 para o 100”. Só se vê gente levantando e iniciando a correria. Com alguma sorte ainda consegue chegar e encontrar o avião em solo. Quando nesse público tem senhoras com crianças então, é um Deus nos acuda. Às vezes até pensam que são dono de aviões quando vão gritando:
- Dê licença, meu avião vai sair! - Dê licença, meu avião vai sair! - Dê licença, meu avião vai sair!
(segue no episódio II a partir do embarque: https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6351592)
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 31/05/2018
Alterado em 26/06/2023
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