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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
Um manicômio chamado Aeroporto. (Parte II)
Embarque: A entrada é engraçada: os mais velhos aqui, por favor. Os diamantes, ouros, rubi, esmeralda ou outras pedras preciosas ali do outro lado mais importante. Como eu não entendi, falei para o meu filho:
- Pra quê tanta distinção, pois se essa merda cair não vai dar para separar ninguém.
Mesmo embarcando continuam falando ao celular, normalmente fechando negócios absurdos, caros e indecifráveis, para que as outras pessoas achem que ali está o dono do planeta. E os gestos? Balançam tanto as mãos e a cabeça, parecendo que estão na frente da pessoa com quem está conversando, às vezes querem até dar uns tapas, brigando e giram em cima das pernas com o corpo.
Tinha um senhor conversando com alguém no celular e ao olhar para o relógio bate o desespero e grita para quem está do outro lado: “Eita merda, vou ter de desligar, o portão de embarque mudou. Vou correr. Daqui a pouco digo se consegui embarcar. Vou ver se consigo entrar no avião antes dele sair. Thau”. Tropeçou na mala de uma senhora que estava ao seu lado e quase vai ao chão. É muita loucura junta.  Não seu se ele embarcou, pois nem sei para onde ele estava indo.

Dentro do avião: Sentei na cadeira do meio e o meu filho na do centro do avião. Na janela foi sentada uma mulher com seus 40 anos de estresse, que de muito louca ia mandando mensagens em áudios no Zap: “Olhe, já entrei no avião”. ”Olhe, já estou sentada”. “Pela voz, parece que o piloto é conhecido – estou tranquila agora”. “Já fui ao banheiro e já estou sentado de novo”. “Vai decolar, vou desligar”.  
Do outro lado uma senhora se vira para o nosso lado e fala com a torturadora de passageiros que estava em nossa janela: “Menina, sabe quem passou aqui agora? Eu vi. Você viu?”. Todo mundo olha para elas e balançam a cabeça em sinalização de um “não, o que é isso?”
Bom também são os comentários dos passageiros mais próximo:
- Vai demorar uns minutos, pois ainda estamos no ar. O avião ainda não pousou, ainda bem que não está atrasado.
- Olha as pernas da aeromoça. A morena é mais bonita.
E os banheiros? Dizem os doidos dentro do avião que raramente são bem cuidados e muitas vezes uma podridão, parece até que quem cagou por último deve ter comido o resto do urubu atropelado pelo avião na semana passada.
E a comida? Meu filho disse que a cada dia que passa, eles vão reduzindo a quantidade, mesmo em viagens mais longas, o que poderia ser solucionado com o pagamento em terra logo um adicional e só receberia o que comprou junto da passagem quem tivesse com o ticket respectivo.
Classe nada: Outra coisa que eu observei foi que algumas daquelas primeiras cadeiras vão vazias, por causa de apenas poucos reais de diferença, o que poderia ser solucionado se ao fechar a porta alguém quisesse utilizar, pagando a diferença no cartão de crédito. Nenhuma iria vazia naquela classe “nada”. Uma simples providência, não acha, caro leitor?

O avião no ar: Observei que algumas pessoas fecham os olhos e pegam no ronco logo na subida. Seria por medo de voar ou efeito de remédios receitados pelos médicos “para partir para outra sem ver nada”? Outras pessoas rezam durante todo o tempo da viagem. Perguntei ao meu filho:
- Por que será que tem muita gente olhando para as aeromoças? – Ele achou a pergunta engraçada e respondeu:
- Alguns passageiros ficam olhando para as caras das aeromoças, para ver se elas apresentam alguma alteração na fisionomia, pois se mostrarem tensão ou preocupação, pode ter certeza que tem problema no voo e começam a fofocar que está acontecendo alguma coisa errada.
Percebi também que os pilotos não conversam com os passageiros sobre o trajeto, pois eles pensam que todos passam ali todos os dias em viagens constantes. Durante o dia bem que eles poderiam seguir informando, “estamos passando por tal cidade, à esquerda podemos ver isso, e à esquerda aquilo”. Eu achei falta de atenção. O que custaria isso?

O avião pousou: Nunca vi tanta falta de educação. Uns apressados querem logo se levantar para pegar seus pertences, parecendo que ali só tem ladrão e vai pegar a sua bagagem. Ficam vários minutos em pé, para mostrar a todos que estão ali, dentro do avião. Olham para um lado e para o outro. Ao abrir a porta para o desembarque, a depender do tamanho do aeroporto, todos seguem a pessoa que está à frente levando a gente como uma manada, Deus sabe para onde.
Pode ter certeza que se um dia eu estiver na primeira fila, só de sacanagem, vou seguir em frente pelo túnel de saída dos sobreviventes e pegar o lado errado, para ver se todos vão me seguir. Vou parar e dar risada. Sei que uns vão me xingar, mas na minha idade não ligo mais para isso. Eu acho que a empresa também vai chamar logo a atenção para o lado certo.

Saindo do aeroporto: logo após a saída da sala do carrossel das malas rodantes, começa o ataque dos taxistas com propostas de todo tipo, cegos e desnorteados achamos que eles têm sempre razão. Aliás, razão e proporção, pois sabem que em terra a gente paga qualquer preço para chegar num quarto e tomar um banho, principalmente se não estivermos muitos cheirosos, se durante o voo ocorreram muitas turbulências. Fazem sempre a mesma pergunta:
- Vai para onde?
- Já temos cadastros no UBER. – respondeu meu filho. – O taxista completa:
- Cuidado, pois aqui tem muita gente louca chegando e saindo do aeroporto. – Ao que eu completei:
- De passageiro e de louco, todo aeroporto tem um pouco.
Dentro do taxi falei no ouvido do meu filho:
- Vou voltar de ônibus, pois quando sai de casa eu estava certinho e agora estou todo torto, por causa desse manicômio chamado aeroporto.
Ele parou ... pensou ... e caiu na gargalhada.
Pensei cá com a minha cueca toda suada:
“Será que ele também ficou louco?
Voar de avião, nunca mais!”.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 31/05/2018
Alterado em 26/06/2023
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