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João Bosco do Nordeste
Professor Mestre em Educação e Administrador empreendedor
Textos
Menina moderna
Na pequena cidade de literacity, no interior do Bracity, uma menina acanhada e estudiosa resolveu seguir para a capital para fazer o vestibular do curso de história numa faculdade pública. Disse ela que deu sorte e passou, e que iria morar na capital para estudar, afastando-se da sua origem familiar, mas o futuro da filha era muito mais importante e a família não pensou duas vezes. Queria ser no futuro uma professora de muitas histórias.
Os pais muito preocupados com a ingenuidade da garota do interior, que aos 19 anos ainda não sabia quase nada das coisas dos adultos das cidades grandes, resolveram arrendar o seu comércio de supermercado, com o qual viviam com uma renda mensal, e foram morar na capital, alugando um apartamento para fazer com que a filha pudesse estudar e ser alguém importante na vida, e depois voltarem todos para a sua terra, com orgulho da formatura da filha querida na bagagem.
Combinaram dar um dinheiro todo dia para a menina pegar transporte, se alimentar e comprar alguma coisa para ela durante o dia, pois saía às 7 h da manhã e só chegava lá para as 21 h.
A menina, antes muito recatada, logo na primeira semana chegou em casa com uma tatuagem de uma borboleta no pescoço. Os pais resmungaram, mas disseram “é apenas uma borboleta”. Nos dias seguintes começou a chegar muito depois dos horários das aulas, dizendo que estava estudando nas casas das amigas. Era a modernidade chegando na casa daqueles matutos do interior.
Nos dois meses seguintes, ela apresentou quatro “namorados” aos pais, um quase a cada 15 sias, dizendo que os príncipes faziam o mesmo curso. Todos, muito modernos, cheios de tatuagens, fumando, com barbas mal cuidadas e roupas largadas. Os pais foram a médicos e começaram a tomar remédios controlados, mas a filha chegava em casa cada vez mais risonha e “zen”, com uma nova tatuagem, e quase sem usar mais nenhum calçado, com os pés cada vez mais sujos. Segundo ela, nas cidades grandes era normal ser assim.  Toda vez que ela falava assim, os pais aumentavam a dose dos medicamentos.
Aos pais, a moça começou a se dirigir com gírias das mais horríveis, sem sentido e sem respeito, como por exemplo “Bugado” “chavoso”, “crush”, “mitou”, “lacrei”, “parça, “sagrou etc.
- Meu Deus, o que é isso? – retrucava o pai.
- E a modernidade homem! Não está vendo? – respondia a mãe.
Um dia o pai chamou a menina e se manifestou preocupado:
- Minha filha, que tanta gíria é essa? Por que continua fazendo tatuagens? Que tanto namorado é esse? Já é o quarto que você traz para a gente conhecer. Depois não dá certo e traz outro. Isso não está certo. Como estão os estudos? Já tem alguma nota de provas?
Ela respirou, sentou no sofá com os dois pés em cima, e disse:
- Colé pai? Ainda não teve nenhuma aula, porque os professores estão em greve. Nós estamos estudando nas casas das colegas é a situação do mundo, as consequências do aquecimento global e a crise da água no polo norte. Além dos cuidados com as formigas na natureza. É um barato! Na casa deles sempre sai uma merenda legal, e depois e a gente fica numa boa. Eu acho que um dia vou trazer a galera para estudar aqui no quarto grande de vocês.
- Meu Deus, aonde foi que eu errei? Onde eu fui amarrar meu jegue? Isso não vai dar certo – gritou o pai e saiu de casa. A mãe abraçou a filha e disse:
- Minha menina, me conte tudo.
Era uma sexta feira. No final de semana a jovem dormia o dia todo e pela noite ficava na sala assistindo TV.
Na semana seguinte, numa certa manhã a filha não acordou para ir estudar, quando a mãe foi ao seu quarto e encontrou o chão vomitado. Acordou a garota perguntando sobre o que ela estava sentindo e se aquilo foi comida.
- Sim mãe, foi comida. – falou baixinho para a genitora.
- Vamos levá-la a um médico para saber o que você está acontecendo. Ao falar com o marido, ele disse que levasse a menina numa farmácia ali perto antes, e falasse com a funcionária para dar um remédio para aquele enjoo. Foram à farmácia, a mulher levou a criança para uma salinha e fez algumas perguntas. Pegou um teste de gravidez e aplicou na xereca da garota. Bingo! Ela estava grávida.
Ao sair do quartinho, a funcionária deu a péssima notícia à mãe. Como iria dizer isso ao pai? Um homem rude, com pouca instrução e criado no interior como a mãe.
Chegaram em casa e o pai estava sentado na janela do apartamento, olhando o movimento esquisito da cidade.
- Hum já voltaram? Passaram o remédio? O que ela tem que está dando enjoo na barriga?
A filha, já moderninha com as palavras após três meses de capital explicou:
- Sabe pai, a moça da farmácia disse que o senhor é um homem de muita sorte tendo eu como filha única, e com apenas quarente e dois anos o senhor vai ser avô. Isso não é para qualquer um. Lá no polo norte, por exemplo, não existem muitos pinguins avós com uma idade tão pouca como a sua. Aliás, dizem que na lua não existe sequer um avô. A sociedade alternativa é uma forma de vida que existiu nas margens do rio Eufrage e do Leão (seria Eufrates e Tigre), mas a história encobriu, somente porque Nabuco não gozou na Caldéia, ao norte da Nesocodâmia (seria ao sul da Mesopotâmia). Mas Nabuco não conseguiu conquistar Jerusalém (conseguiu sim), não sei se foi antes ou depois do Salvador nascer (foi 587 Antes de Cristo), mas que não casou e nem deixou neto para os pais dele. Dizem que Santo Antônio é casamenteiro e nem foi casado, por isso também não teve nenhum filho ou neto. Meus amigos são mais evoluídos e querem perpetuar a espécie, como Darwin falou: crescei e multiplicai-vos. (Darwin nunca falou isso)
O pai gritou – Pare! Pare! Pare! Depois pensou ... refletiu ... e perguntou:
- Minha filha, pelo amor de Deus, quem é o pai dessa criança? Quando aconteceu?
- Meu pai deixe de fazer perguntas difíceis. Como eu vou saber? Na sociedade alternativa quem está em cima sobe, quem está em baixo desce. É um sistema chamado de rasgatanga.
O pai detonou:
- Acabou a faculdade ... acabou a tranquilidade ... acabou a moralidade ... acabou ... acabou. Vamos voltar para casa, em nossa cidade. Vou pedir de volta o meu comércio e vamos entregar esta casa aos donos. Eu poderia comprar um revólver e matar o descarado que fez isso com a nossa filha, mas a faculdade tem muitos alunos e eu teria de cometer vários crimes sem necessidade, até certar o nosso genro filho de uma rapariga. A gente cuida de você lá no interior. Se for menino, vamos colocar o nome de “Caio rolando”, pois quando crescer ele vai saber como foi gerado e obrigado a voltar para a nossa cidade. Se for menina, vai se chamar “Historina, para que ela saiba quando crescer que foi uma menina gerada numa história.
Poucos dias depois, mesmo com a menina ainda de cama e vomitando, arrumaram os “panos de bunda” e voltaram para o local de onde nunca deveriam ter saído.
Moral da história: Água nova de um rio quando encontra uma corredeira, se não tiver alguém no controle dessa besteira, torna-se maluca e cai na cachoeira.

- Conto do autor, no Livro Rapsódia de um contador de histórias, Editora Becalete, 2018.
João Bosco do Nordeste
Enviado por João Bosco do Nordeste em 28/11/2018
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