Silêncio na casa da praia
(Conto do livro Emoções poéticas V - Futurama editora, 2018)
Um dia lá na casa de praia da família estava hospedado um casal de amigos dos meus pais, que iria passar uma semana. A esposa era minha tia, irmã de minha mãe, uma mulher daquelas fogosas de 40 anos de idade, que só andava beijando e abraçando o marido, andando com roupas transparentes.
Eu, ainda menino com 12 anos, sempre dormia num quarto ao lado dos visitantes, num cantinho do mesmo quarto da mãe e do meu pai, numa cama de solteiro.
As visitas saiam toda noite para as baladas e quando chegavam bêbadas às vezes ainda traziam outros amigos e ficavam na varanda bebendo, jogando cartas de baralho, conversando, mas nós dormíamos mais cedo.
Um dia eles chegaram e entraram, só que minha mãe dormia e o meu pai roncava feito um porco. Ao se deitarem, a mulher começou a fazer um barulho como se estivesse chupando cana no quarto ao lado, repetidas vezes. Eu abri os olhos debaixo da coberta e fiquei ouvindo aquilo, sem saber o que seria, mas como eu já tinha o número do zap do camarada, mandei um áudio para ele, baixinho:
- Rapaz, fala com sua mulher para fazer menos barulho. Tem gente acordada na casa.
Fiquei esperando e o barulho não parava. Daqui a pouco chegou um áudio dele, com o som de um bar, com alguém tocando e cantando:
- Vai dormir menino. Eu estou aqui no bar de Nersum com uns amigos bebendo. Minha mulher já deve estar dormindo. Ela foi mais cedo para casa na carona de um amigo que também está veraneando aqui na praia.
Como não entendi direito, me levantei, fui na porta do quarto vizinho e fiz “xiiiii, - silêncio” e a coisa silenciou. Então voltei a enviar um áudio para ele:
- Tá certo. Não tem mais nenhum barulho. Ela deve estar dormindo mesmo.
Após o silêncio, ouvi o ronco do meu pai que parecia ter voltado ao sono profundo.
Passados uns 40 minutos, eu ainda acordado ouvi a porta do quarto ao lado ranger abrindo, deveria ser o visitante saindo.
Ao amanhecer eu ouvi a porta da sala abrir e a porta do quarto ao lado também. Deveria ser o marido da sirigaita chegando, eu acho.
Ao meio dia, quando acordaram, meu pai cochichou com a minha mãe e inventou que iria para a cidade fazer alguma coisa urgente e chamou todo mundo para ir embora. Pegamos o nosso carro e o casal pegou o deles e seguimos para a cidade, a uns 120 km de distância dali. Lembro que o meu pai desceu do carro e eu fiquei com a minha mãe esperando eles conversarem no outro carro. Muita gesticulação do meu pai, uns tapas na chaparia do carro deles, até que voltou. Não sei o que se passou, só sei que no dia seguinte voltamos eu, meu pai e minha mãe para a casa de praia novamente. Somente nós três. Pense numa paz.
Até hoje não sei se naquela noite o meu pai realmente estava acordado. Contei a ele sobre o ocorrido naquela madrugada e ele me falou que fizeram da casa um motel.
Nunca mais convidaram aquele casal para a nossa casa de praia.
Que baixaria!
Que alívio!
Que pena!
Que dó!
....... que sacanas, rapaz!
João Bosco do Nordeste e Diversos - Antologia
Enviado por João Bosco do Nordeste em 22/12/2018
Alterado em 22/12/2018