Prof. João Bosco da Silva – Mestre em Educação e Formação de professores
Fundación Universitária Iberoamericana

Conceituação:

O maltrato é conhecido também como assédio escolar, por isso todas as vezes nas quais um aluno se sente exposto ao ridículo, ofendido ou agredido verbal ou fisicamente perante os demais colegas, ele tende a se prejudicar nos estudos, e às vezes necessitando até mesmo de apoio psicológico.
Existem casos em que são apontadas características negativas de sua formação, causando rejeição prolongada, intimidação e até agressão, quer seja por questões homofóbicas, de religião, por preconceito linguístico, opção sexual, práticas abusivas de relacionamentos, entre outras.
Ocorre em seguida o desequilíbrio de poder, fazendo com que a pessoa se sinta fragilizada, pela intencionalidade ou repetição, transformando-se em ações agressivas que se repetem contra a vítima, e pelo enfraquecimento perante o grupo, há a indefensão e a personalização firmada, colocando-a em situação de não poder se defender.
Com o desequilíbrio de poder aumenta a desigualdade de poder físico, psicológico e social, gerando um desequilíbrio de forças nas relações interpessoais. A intencionalidade então se expressa numa ação agressiva que se repete e gera na vítima a expectativa de novos ataques.
Portanto, esse tipo de agressão normalmente só é feita para atingir apenas um aluno, que é colocado dessa maneira em uma situação de indefensão.
Para que a transformação de conflitos tenha incidência na escola é  necessário que os educadores e demais partícipes das lides de educação sejam capacitados pela escola, nas dimensões individual e social.
Para isso, quando os conflitos são abordados sob um enfoque global, pretende provocar mudanças de forma sustentável e pacífica no sistema escolar, envolvendo toda a comunidade que faz parte da educação no centro de formação.

Os profissionais da Educação em Resolução de Conflitos

Devem ser mediadores dos conflitos, aplicando um método alternativo de possível resolução de forma neutra e imparcial, a fim de ajudar para que as partes cheguem a um acordo que provoque uma mudança sustentável no modelo de construção pacífica no sistema escolar.
O estudo da resolução de conflitos é a contribuição da educação para a transformação da nossa sociedade que evite a cultura da violência, oferecendo uma infraestrutura psicológica de crenças individuais, normas sociais e valores impactante na competição, força e violência usados como meios de alcance de poder, segurança, riqueza, prestígio, autoestima e dominação social, para que se tenha uma cultura de paz, com bons valores, atitudes, comportamentos e estilos de vida, com respeito aos direitos humanos, no entendimento intercultural, sem preconceitos ou intolerância.
Nessa transformação de conflitos nas escolas, o ensino em Educação para a Resolução de Conflitos (ERC) deve cumprir realmente os objetivos propostos, adotando metodologias sistemáticas com as quais os estudantes possam assumir as suas responsabilidades, enfrentando com técnicas de soluções nas relações da vida cotidiana. Mas para que essa realidade possa ocorrer, também deve haver uma mudança sistêmica nas escolas, muito além de ser apenas uma questão curricular, mudando o sistema, pra se chegar aos resultados esperados.

Modelo de convivência

No enfoque global, o modelo de convivência pretende tratar os conflitos de modo a provocar mudanças de forma sustentável e pacífica no sistema escolar, envolvendo toda a comunidade que faz parte da educação no centro de formação, de forma proativa, dirigido à prevenção contra conflitos prejudiciais e perturbadores.
Como consequência, tem-se um novo sistema de manejo do conflito dos estudantes na escola que pode ser representado por uma pirâmide (Cohen 1995).
Enquanto não são sentidos, existem os conflitos potenciais, que não se manifestam onde haja um bom clima escolar, desde a utilização do currículo, do manejo mais efetivo da sala de aula de forma mais democrática. Interessante que os estudos mostram que a maior parte dos conflitos existentes na escola podem ser solucionados pelos próprios estudantes, desde que munidos das ferramentas adequadas apreendidas, desde as habilidades de autocontrole, solução compartilhada de problemas, porém, ao fugir desse patamar, os problemas devem ser encaminhados para outro método de mediação, envolvendo mediadores mais experientes, como é o caso dos professores.
É necessário que os mediadores de sala de aula utilizem as pautas para a condução das atividades, introduzindo uma ideia-chave para definir o objetivo da atividade; relacionando ideias com as experiências dos participantes, permitindo que o grupo descubra conceitos importantes, a partir de cada experiência, analisando cada experiência, seus sentimentos, o aprendizado e a forma de utilizá-las, resumindo ou reconhecendo o entendimento dos conceitos e experiências que foram discutidos e disseminados.
Uma técnica que vem apresentando bons resultados é a Audição ativa, melhorando o modo de responder aos conhecimentos e pensamentos, sentimentos e experiências dos outros, como uma empatia. Saber entender o outro, sem fazer julgamentos, a fim de que os interlocutores se sintam bem à vontade para expressarem seus conhecimentos e experiências, tentando compreender o que o outro, demonstrar compreensão e aceitação, respeitando os pensamentos e sentimentos mais importantes do outro, sem interromper as suas colocações, oferecendo conselhos e sugestões, sendo mais neutro possível, sem tomar posições de nenhum lado, com perguntas abertas, a fim de entender e se fazer entendido.
Esse modo de responder implica no conhecimento de pensamentos, sentimentos e experiências dos outros. Na comunicação, o ouvinte não é apenas um receptor da mensagem, devendo participar a fim de se compreenderem, verbal e não-verbalmente, porque quando se demonstra empatia e respeito, e não se julga, a tendência é de que o diálogo flua melhor e dê mais confiança aos participantes.

Programas de mediação escolar

Um bom programa pode apresentar os elementos-chave da contextualização da metodologia, com difusão-sensibilização, estabelecimento a criação de uma comissão de convivência, elaborando um diagnóstico/avaliação da convivência no centro e de um programa global anual de convivência escolar, com uma coordenação que faça a formação dos agentes implicados durante o desenvolvimento progressivo do programa, considerando a colaboração de todos os setores da comunidade escolar, a metodologia do processo e a prática como referencial.
Outra técnica utilizada na mediação de conflitos e a Assembleia de classe, que tem o objetivo de transformar o diálogo num momento institucional interativo entre as pessoas da escola, a fim de estimular e possibilitar a participação de todo o grupo nas discussões, otimizando o trabalho, a convivência e a animação. É um local e momento adequados para debates e solução de conflitos do grupo, tomada de decisões consensuais, e acompanhamento ou análise de acordos anteriores. Vai desempenhar, portanto, um papel informativo dos educadores, de forma vertical, e dos alunos, de forma horizontal, para divulgar o que considerarem relevante na vida da coletividade. Podem lidar com os pequenos ou grandes conflitos de convivência, bem como um especial momento de falar e ouvir o sentimento da escola pelos alunos ou pela direção, melhorando o diálogo e a compreensão com todos os membros que se envolvem na educação escolar, podendo pautar diversos aspectos nesse relacionamento, tais como projetos de trabalho, demandas das famílias dos alunos e momento informativo da escola, e outra infinidade de questões programadas, em andamento ou finalizadas, como uma prestação de contas.
A convivência requer a resolução pacífica dos conflitos, sendo que existe o principal deles que em muito preocupa os professores, que é a disrupção – interrupção de um processo, quando os alunos ficam nas salas de aulas tentando desconstruir modelos convencionais de educação, querendo impor seus novos padrões de comportamentos sociais, com muita adesão dos outros colegas. A inovação tecnológica é uma delas, tirando a atenção dos conteúdos das aulas, pois eles entendem que muitas informações oferecidas em sala de aula também são encontradas na internet, de toda forma e conteúdo, com uma busca desorganizada de um conhecimento difuso e cada dia mais disperso.
Sabendo utilizar essas ferramentas na educação, com metodologia e provedores de ensino, num modelo educacional mais adequado, poderemos obter novas formas de conhecimento, mas o difícil é tirar o jovem da sua zona de conforto e fazê-lo buscar somente as boas informações, utilizando as mudanças e inovações “disruptivas” em seu benefício, nos aplicativos, redes sociais, buscadores, entre outras tecnologias.
Diferentemente de tecnologia acessada sem acompanhamento ou metodologia, no âmbito da vida escolar as normas regulam o respeito à pessoa, o respeito aos materiais, a organização do centro de estudos, já que esse enfoque transformador da escola exige capacitar a pessoa nas dimensões individual e a social.
Agregando uma sistemática de convivência na resolução de conflitos, os programas curriculares têm como objetivo provocar mudanças em termos de aquisição de conhecimento, atitudes e comportamentos por parte dos estudantes, e dentro do modelo global de convivência procura-se provocar uma mudança sustentável no sistema escolar com um modelo construtivo e pacífico de convivência, envolvendo toda a comunidade educacional, inclusive os docentes e não-docentes na formação do programa curricular de resolução de conflitos, para a educação primária e a educação secundária, como um programa de caráter preventivo composto por um conjunto de atividades instrutivas voltadas à aprendizagem de conceitos e habilidades de resolução de conflitos. O papel dos professores na resolução de conflitos deve ser de facilitador.

Critérios de negociação para resolução de conflitos

Os critérios básicos para regular a convivência e a resolução de conflitos devem ter como primados a direito ou a norma, o poder, o interesse, e as consequências ou resultados conseguidos devem ser realistas e possíveis.
Qualquer bom acordo é sempre melhor que um litígio, por isso para ser obtido, deve ser aceito por ambas as partes, de forma equilibrada e tema específico, fazendo a mediação entre iguais no modelo Horizontal.
Um bom exemplo de mecanismo que permite a negociação estruturada dentro e fora da sala de aula é o "espaço da cadeira-orelha e da cadeira-boca", oferecendo-se como um lugar na parte dos fundos da sala de aula, para que os alunos resolvam seus conflitos, abrindo um diálogo e negociação recíprocos, centrando somente nessa atividade, em duas cadeiras, cada uma delas com uma função do ocupante. Uma será a cadeira-orelha e a outra a cadeira-boca, sendo que quando a boca fala, a orelha só pode escutar, depois eles trocam de lugar.
A negociação é diferente da mediação, pois enquanto o primeiro buscar fazer acordo por meio do diálogo com um tema exposto e esperando uma solução, a mediação envolve amplos debates de diversas vertentes, possibilitando ao mediador oferecer técnicas para que as pessoas possam oferecer opções de soluções diversas, e até mesmo apresentar novos indicadores durante a discussão.
Na negociação as partes divergentes tratam de obter um acordo para satisfazer seus interesses, já na mediação é oferecido um método alternativo de resolução de conflitos, centrado por um profissional neutro e imparcial que ajuda às partes a chegar a acordos sobre determinados tipos de conflitos.
A negociação é um processo de relacionamento interpessoal que ocorre quando uma pessoa deseja algo de outra, e a mediação é quando ambos procuram se satisfazerem nas questões analisadas. Na negociação os diálogos podem ser mais elaborados e complexos tecnicamente, mas na mediação tudo pode ser bem mais simples, com o objetivo de encontrar um entendimento entre as partes quando estão se deparando com diferentes tipos de enfrentamento.

Estilos de confrontação

De acordo com Chiavenato (2005) são cinco estilos de confrontação, que tem por base duas grandes dimensões de análise: a cooperatividade, que é o grau em que uma parte tenta satisfazer os interesses da outra parte; e assertividade, que é o grau em que uma parte tenta satisfazer seus próprios interesses.
Os cinco estilos de confrontação de conflitos são:
1) Competição: é quando o comando autoritário se reflete com forte assertividade para impor o seu próprio interesse. É utilizado quando uma ação decisiva deve ser rapidamente imposta em situações importantes e impopulares, uma vez que a urgência ou emergência de solução torna-se necessária ou indispensável. É a atitude de confronto e de dominação em que uma parte se engaja em uma competição do tipo ganhar / perder, forçando para isso o uso da autoridade. Máxima decorrente: O negócio é ganhar.

2) Colaboração: é o estilo de confrontação baseado em cooperação e assertividade que habilita ambas as partes a ganhar, desde de que utilizem a negociação e o intercâmbio para reduzir diferenças. É empregado quando os interesses de ambos os lados são importantes, e quando os pontos de vista das partes podem ser combinados para uma solução mais ampla, visando compromisso o qual requer sentido de consenso.
Máxima decorrente: O negócio é que ambas as partes ganhem e se comprometam com a solução encontrada.

3) Evitação: mostra uma postura não assertiva e nem cooperativa, com vistas a se evitar ou se fugir do conflito. É uma atitude de fuga pela qual o administrador procura evitar as situações de conflito, buscando outra saída, ou deixando as coisas como estão, para que, com o tempo, o conflito se torne menos intenso. Este estilo é muito usado quando o problema é trivial, ou quando não há chance de se ganhar, pois se requer muito tempo para se obter informação, ou quando há ainda um desacordo que pode tornar o risco oneroso ou perigoso para a organização como um todo.
Máxima decorrente: O negócio é se fechar em copas.

4) Acomodação: reflete alto grau de cooperação para suavizar as coisas, mantendo sempre um clima de harmonia entre as pessoas. Consiste em resolver os pontos menores de discordância e deixar os problemas maiores para frente. Funciona muito quando as pessoas sabem o que é errado, quando há um assunto que é muito importante e que não pode ser deixado de lado, e quando se pretende construir créditos sociais para se utilizar a experiência adquirida em outras situações conflitantes, ou ainda quando percebe-se que manter a harmonia é o mais importante de tudo.
Máxima decorrente: O negócio é ir levando com a barriga.

5) Compromisso: é uma combinação tanto das características de assertividade quanto de cooperação. É utilizado quando uma parte aceita soluções razoáveis para a outra, pois cada parte aceita ganhos e perdas na solução. Ocorre ainda quando os componentes têm igual poder, e ambos os lados querem reduzir as diferenças. Desta forma, as pessoas precisam chegar a uma solução temporária sem pressão de tempo. Máxima decorrente: O negócio é ter jogo de cintura.


REFERÊNCIAS:

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas. Elsevier Brasil, 2005.